A beleza no Cochilo.
- henriquesampaioh
- 9 de out. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de out. de 2024

Hoje cumpro 42 ciclos de existência. Me equilíbrando entre uma vida cheia de cenas, algumas que me escapam a compreensão e outras tão marcantes que parecem tatuadas na alma, e um futuro ainda a ser inventado, impossível não sentir a necessidade de parar e fazer um balanço geral ou como um hábito difícil de largar, pedir para trazer a parcial.
Percebo, com assombro, que na encruzilhada que me encontro, todas as idades, que já tive e que terei, me habitam. Pelas manhãs, sinto a emoção dos pequenos prazeres, perdido por entre as prateleiras dos biscoitos recheados numa budega da Aerolândia. Ao meio dia, sinto a melancolia de uma adolescência sem a capacidade de interação que sonhava. Na hora do café, visito meus amigos em tardes e gargalhadas interminaveis em bares pelo Benfica. Ao jantar, converso com a amor da minha vida sobre o nosso dia de trabalho na escola e ao dormir, visito, com emoção, locais que ainda não fui.
Percebo, com assombro, que na encruzilhada que me encontro, todas as idades, que já tive e que terei, me habitam
Não sinto o pesar da idade, envelhecer é uma novidade para mim. Há pouco mais de um ano, quando percebi, me olhando no espelho, meu cabelo a ficar grisalho, ali, naquele exato momento, envelheci. Dia após dia, o tempo me obriga a perceber suas ações em meu corpo. A pele começando a cair ao redor do pescoço, os cabelos brancos na barba por fazer, algumas manchas brotando onde antes era uma pele lisa e brilhante, não deixam eu esquecer que desde aquele dia, eu envelheci.
Não é trágico, é apenas a vida seguindo o seu curso. O que mais sinto é o descuido com o olhar. As vezes, embotado, ele teima em não perceber as belezas das pequenas coisas, inundado de mundo, luta para não ser afetado. Essa é uma batalha que vale a pena ser travada: não deixe seu olhar se acostumar com o mundo. As belezas estão todas por aí, basta você ter a sensibilidade para olhá-las de verdade.
Há pouco mais de um ano, quando percebi, me olhando no espelho, meu cabelo a ficar grisalho, ali, naquele exato momento, envelheci.
Escrevo essas palavras num quarto em uma pousada em uma das centenas de praia desse Estado. Acabamos, eu e Lorena, de chegar da praia. Tomamos banho e dividimos um chocolate enquanto assistimos metade de um episódio de uma série, antes dela dormir, agora, eu observo ela cochilar deitada ao meu lado. Nesse momento estou aqui, nesse agora e não tenho idade, não sou uma criança sonhadora nem um velho frustado, não sou um jovem irresponsável nem um adulto determinado, não sou as centenas de projeções que faço de mim mesmo.
Sou apenas eu. Não diria feliz (a busca pela felicidade é supervalorizada e aprendemos que são exceções na vida), mas me sinto realizado, mais profundamente , em paz. Consigo enxergar a beleza desse momentofrulgal. Enquanto conseguir perceber beleza em um cochilo, acho que a vida vale a pena.
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